
As Forças Armadas de Israel retiraram suas tropas neste domingo (9) do corredor estratégico de Netzarim, que divide a Faixa de Gaza, deixando quase toda a região norte do território, conforme previsto no cessar-fogo firmado com o Hamas. A retirada é um passo essencial para avançar nas negociações de um acordo mais duradouro.
A saída dos militares ocorreu enquanto o governo israelense enviava uma delegação ao Catar para discutir a libertação do próximo grupo de reféns israelenses e prisioneiros palestinos, em continuidade à primeira fase do acordo de trégua iniciado no mês passado.
Em comunicado, o Exército israelense afirmou que as tropas estavam “implementando o acordo” ao desocupar o corredor, permitindo o retorno de centenas de milhares de palestinos ao norte de Gaza. O Hamas confirmou a retirada, classificando-a como “uma vitória da vontade do nosso povo”.
Com a saída das forças israelenses, a presença militar de Israel em Gaza se limita agora a uma pequena faixa de terra no sul, próxima à fronteira com o Egito, e a uma zona-tampão ao longo da fronteira israelense.
O Ministério do Interior de Gaza, sob controle do Hamas, alertou os palestinos que retornam à região sobre inspeções de segurança, feitas por empresas estrangeiras, para evitar o transporte de armas do sul para o norte do território. “Pedimos aos cidadãos que sigam as diretrizes e se desloquem conforme os protocolos estabelecidos para garantir sua segurança”, declarou o ministério.
Acordo e negociações
A retirada do corredor de Netzarim faz parte da primeira fase de 42 dias do cessar-fogo e é um requisito para avançar para a próxima etapa, que pode levar ao fim total da guerra em Gaza.
As negociações para a segunda fase – que envolvem a libertação de mais reféns e uma retirada militar completa de Israel da Faixa de Gaza – deveriam ter começado em 3 de fevereiro. No entanto, pouco progresso foi feito, mesmo com a retirada parcial das tropas israelenses.
No último fim de semana, Israel enviou uma delegação ao Catar, um dos principais mediadores das negociações. No entanto, a presença de representantes de baixo escalão gerou dúvidas sobre a possibilidade de avanços significativos.
Israel reafirma que não aceitará uma retirada total de Gaza até que as capacidades militares e políticas do Hamas sejam eliminadas. Por outro lado, o Hamas mantém a posição de que não libertará os últimos reféns enquanto houver presença militar israelense no território.
Pressão por reféns e plano de Trump
A libertação de três reféns israelenses no sábado (8), visivelmente debilitados e sob ameaça de armas ao fazerem declarações ao Hamas, aumentou a pressão sobre o governo de Israel para ampliar a fase atual do acordo. Familiares dos reféns alertam que a situação dos cativos é crítica.
“Não podemos deixá-los lá. Não há outra opção. Apelo ao gabinete para agir”, disse Ella Ben Ami, filha de um refém recém-libertado, ao relatar que a condição dos sequestrados é pior do que se imaginava.
Enquanto isso, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, elogiou um controverso plano proposto pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que sugere a retirada dos palestinos de Gaza e a reconstrução da região sob outro modelo de governança.
“A proposta do presidente Trump é a primeira ideia nova em anos e pode mudar tudo em Gaza”, declarou Netanyahu à Fox News. Segundo ele, o plano prevê que os palestinos tenham a opção de se deslocar temporariamente para outros países enquanto a região é reconstruída. No entanto, Egito e Jordânia já rejeitaram a ideia.
A proposta gerou fortes críticas internacionais, sendo classificada como uma tentativa de limpeza étnica. Para os palestinos, a medida remete à Nakba, o deslocamento forçado que marcou a criação do Estado de Israel em 1948.
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